Mestre, o que seriam os obrigados à grandeza impar de tua locução?
Pelas informações, pela presteza das letras verbalizadas que vieram ao encontro do eterno aprendiz. O que indagar?
Sorrateiramente, as vicissitudes do tempo e das alegorias forjaram das inquisições o pleonasmo nacionalista íngreme e politicamente iconoclastas à história.
Mas tu és imortal, não?
E eu? Reles mortal, que angario na sede e na fome do saber um espaço entre os cátedras sociais, com todas as suas pompas e granjeios de intocáveis, na expectativa de pertencer ao quadro honorífico dos veneráveis mestres, fico à margem da sapiência...
Sentes dor?
Eu sei o que é a dor. Me coloquei ante as noites de insônia, no referendum de citar as fontes, e modelos, e estereótipos do magister dixet, e agora?
Sinto-me enlutecido, na sala dos passos perdidos, caminhante abrupto de um não categoricamente frígido e sem concepções do que se está fazendo: podando a oportunidade de ascenção na docência do saber.
Fui tolhido pelos meus mestres? Onde ficaram as noites preso em corredores de bibliotecas, pesquisando, reconhecendo nas letras amareladas as respostas supostamente respondidas àquilo que supostamente os mestres quereriam ouvir ou ler?
E minhas ausências no leito familiar, como resgatar o verbo de confiabilidade e de estrutura de líder, se meus mestres, encapuzados pelos atores próprios ficam à mercê do queremismo?
Sinto dor, sim... sou mortal.
Esgotei as virtudes que se compuseram no arcabouço acadêmico, e percebi que o demagogo supera os atores que pertencem à elite iluminista. Tem-se que urgente acabar com o continuismo da era das trevas, pois algum pseudo-mestres estão ainda à sombra das batinas políticas das masmorras, presos na vaidade jurídica de um poder fétido, detentores dos saberes promíscuos que o religare coercetivamente impôs...
Onde estão os exemplos, os passos seguidos as palavras sábias contidas nos livros amarelados pelo tempo e preservados pelos gentios?
Clama minha alma por justiça... retumba o coração para ser o ator entre os gládios da prepotência.
Oh Mestre, o que fazer com a frieza de não ter meu nome elencado nos corredores do saber? Lutei tanto por isso, e me amputaram a chance de proferir sobre os atores políticos, sobre os cenários políticos, sobre os organismos e suas estratégias de mudarem os rumos econômicos e sociais em que a coletividade entremeados no pão e circo, vomitam na miséria e do próprio vômito banqueteiam-se na cultura pasteurizada, nos valores regrados, prostrando-se ante aos mandos e desmandos de uma sociedade entorpecida pelo poder?
E o que dizer dos fidalgos?
Quantos, quantitativamente falando, tem o perfil de mestre que travando espaço nos lotações segue viagem à periferia para levar o saber aos desgraçados, aos miseráveis, aos inconformados, aos retrógrados, aos sem terra, sem pai, sem mãe, que se prostituem por um punhado de balas, que vêem o saber como pertencente somente à elite?
Quem são os atores neste palco virtual?
Sobreviver, este é o tema que os editais nos forjam a cumprir, se verdadeiramente cumpríssemos...
As geenas univesalistas retratam as penas que as criaturas tentam advogar no weberianismo legalista ou então, inovar o tradicionalismo com teses e falcatruas de que quem pode deter o segredo dos cofres públicos são os imortais... E quem na concepção de Tocqueville refaz o cenário estatal em que burlar os segredos traz como identificador uma anomalia social? Tem-se que repensar nestas propostas, nos critérios nos estado subterrâneo que se está trabalhando paralelamente como inversão do iceberg político.
Sentir dor é para os mortais...
Te ouvi mestre, e me reservei no silêncio de seguir teus passos, na ânsia de seguramente obter a vitória, não ouvi aos profanos que me disseram: Cuidado! E mesmo assim continuei seguindo.
E o mundo populista, que hasteia sua bandeira filantrópica do desdém, estão lá dando seus golpes no estado de coma social, preocupados que os famigerados rompam os portões, ateando fogo, e bravejando na ira do infortúnio: Mestre, mestre, porque te corrompestes com a vã filosofia, e nos eternizou à ignorância?
Tenho família, mestre. E meu nome não apareceu nos corredores... Como ficam os vernáculos com a sociedade de papel, com a sociedade de concreto, com a sociedade subterrânea? Tenho necessidades, tenho objetivos, e me arrancam o que considerava tanto, que era o de tê-lo, muito mais que mestre, um verdadeiro amigo que nas palavras sábias esculpiu meus ideais políticos e fez-me respeitar a ética e vivê-la, a granjear o cidadão e orientá-lo, a criticar as leituras e pô-las em prática, a colecionar os conceitos dos pensadores e empunhá-los nas dissertações.
Tenho família, mestre.
Como me sinto, tu não sabes... Ausentei-me muitas noites e dias dos meus, no amadurecimento dos teus conselhos que acompanharam meu trabalho nas ciências políticas, no processo político mercosulista em que me tenho dedicado, e daí? Tudo em vão?
Onde está o orgulho de se ter um grupo de aprendizes, e deles poder repassar seus saberes infindáveis, colocando sua ciência como revolução de idéias, de apresentar seus valores como alternativas numa sociedade lúgubre de interesses...
E Marx, Weber, Toqueville, Montesquieu, Rousseau, Maquiavel, Pareto, Salomão, Moisés, Ricardo, Maria do Carmo, Costa, Sigfried, Walras, Poulantzas, Bega, Weffort, Dahl, FHC, e tantos outros em suas matérias, seus ideais? Estão lá nos corredores mal - iluminados das bibliotecas do esquecimento... Então tu mestre, os indicastes à reflexão e não fui reconhecido.
Tens sede? Tens fome? Do quê?
Tenho uma geração que necessita de mim, mestre?
Tu é meu confessor? Que imagem tenho de ti agora? Recorri ao subterrâneo, e palestrei sobre quem são os mestres... e eles simplesmente me disseram com toda a naturalidade de meros mortais, que não existem são apenas figuras acadêmicas que se deterioram com o tempo, e são reprovados no exame de próstata.
Fiquei pasmo, e continuei a partir de então a refletir sobre meus planos e idéias, e senti que sou mais importante que simplesmente as páginas mofas de um livro qualquer, de uma biblioteca qualquer, de uma cidade qualquer.
Éh mestre, acredito que onde estou posso ver o mundo melhor e mais nítido.
Não sei se foi para mim um prazer em tê-lo conhecido.
Continue assim, foi o caminho que escolhestes, se precisares de uma palavra não temas, me procure.
EDILBERTO A GASPARETTO 02.DEZ.1999